Santa Catarina de braços abertos

05.12.2023.

Juilliaan: natural da Venezuela, é em Chapecó que ela se sente em casa - Foto: Suellen Santin

Desesperançados pela profunda crise em seu país, em julho de 2019 Juilliaan Anyelik Bolivar Garcia, o marido e os dois filhos deixaram a cidade de San José de Guanipa, na Venezuela, em busca de um futuro melhor. Partiram num ônibus rumo a Santa Elena de Uairén, na fronteira com o Brasil, e desembarcaram em Boa Vista (RR). Carregavam pouco mais do que a roupa do corpo e se juntaram a milhares de refugiados venezuelanos. A família passou momentos de medo e insegurança no acampamento onde vivia com outros imigrantes. Juilliaan conta que preferiram morar na rua. “A gente comia no café da manhã sem saber se conseguiríamos fazer a próxima refeição”, lembra.

Permaneceram nessa condição por três meses, até que a oportunidade de um emprego surgiu no distante Estado de Santa Catarina. O Grupo Bugio recrutava famílias de imigrantes para trabalhar em seu frigorífico localizado na estrada que liga Chapecó a Seara, dois dos maiores centros agroindustriais do Oeste catarinense. Era a chance que Juilliaan esperava. Ela e o marido se inscreveram no processo seletivo, passaram pelas duas etapas, e com ajuda de custo da empresa embarcaram com as crianças num voo rumo a Chapecó. Após alguns dias hospedados em uma fazenda, alugaram uma casa assim que receberam um adiantamento do salário. “A gente não tinha cama, nem nada. Os vizinhos, os colegas de trabalho e a empresa se mobilizaram para nos ajudar com roupas, móveis e utensílios de cozinha”, conta Juilliaan.

Dedicada e com facilidade para aprender, em três anos de empresa ela foi promovida duas vezes. Saiu de uma função manual para operar o computador no cargo de apontador de produção, no setor de abate da Ecofrigo. Da Venezuela ficou a saudade das comidas típicas, das festas e do idioma, mas é em Chapecó que ela se sente em casa. A irmã e a mãe também foram morar na cidade e Juilliaan não tem dúvidas de que ali é o lugar para prosperar e criar os filhos. “Tenho o sonho de comprar minha casa própria, e se surgirem novas oportunidades estarei pronta para encarar.”

O Oeste do Estado também foi endereço da argentina Carina Pacheco, que lá formou família quando imigrou para o Brasil em 2001, aos 21 anos de idade. Em 2013 ela se mudou para Itajaí, e há pouco mais de um ano trabalha na Okean Yachts, fabricante de iates que também migrou, há dois anos, do litoral paulista para a cidade catarinense, em um investimento de R$ 110 milhões.

Com 37,6 mil imigrantes trabalhando em Santa Catarina, o Estado é o destino de um quinto dos estrangeiros que trabalham no Brasil, de acordo com o Observatório das Migrações Internacionais (2020) – só em São Paulo há mais imigrantes. Oportunidades de trabalho e qualidade de vida são reconhecidos fatores de atração, tanto para imigrantes quanto para brasileiros de todas as regiões. “Santa Catarina é um estado desenvolvido, com elevado IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), e isso naturalmente gera fluxos”, afirma Marcelo Fett, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Se as causas do aumento populacional são conhecidas, o Estado deve se preparar para lidar com as consequências. “O crescimento populacional é bom? Depende”, diz Fett. “O desafio é transformar o fluxo em oportunidades.” Para José Eduardo Fiates, diretor de Inovação e Competitividade da FIESC, um estado mais populoso tende a ter maior peso político e econômico. Há, por exemplo, vários fundos para redistribuição de verbas públicas de acordo com a população, assim como é maior a representatividade no Congresso Nacional. A economia também ganha com um mercado consumidor maior, e ainda há espaço para adensamento populacional: a Holanda, por exemplo, tem metade da área de Santa Catarina e uma população duas vezes e meia maior.

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