José Zeferino Pedrozo Presidente da FAESC e do SENAR/SC.

Santa Catarina possui o mais avançado parque agroindustrial brasileiro da avicultura e da suinocultura. Essa fabulosa estrutura gera uma riqueza econômica de mais de 1 bilhão de aves e 12 milhões de suínos por ano, sustenta mais de 150 mil empregos diretos e indiretos e gera bilhões de reais em movimento econômico. Insumo essencial para o funcionamento desse gigante produtivo é o milho. 

A grande e grave questão que se coloca todos os anos é: como abastecer Santa Catarina de milho – são necessários mais de 7 milhões de toneladas por ano – se o Estado tem um crescente e aparentemente insuperável déficit? O cenário é de franca decrepitude. Em 2005, 106 mil produtores rurais catarinenses cultivavam 800 mil hectares. Hodiernamente planta-se cerca de 300 mil hectares, apenas, exigindo a importação de 4 milhões de toneladas/ano. O milho é um cereal que impacta profundamente na realidade do agronegócio catarinense. 

A conjugação de uma série de fatores contribuiu para chegarmos a esse ponto, com redução tão drástica da produção. Os agricultores migraram para a soja, um produto com grande liquidez no mercado de commodities, menor custo de produção e melhor remuneração final. Outro fator é que 40% do milho que SC produz se destinam a silagem, portanto, não sai da propriedade e é utilizado na nutrição da pecuária leiteira. As deficiências de armazenagem constituem um problema adicional.

Santa Catarina é o 8º Estado em produção de milho, porém o 2º maior consumidor e o 1º  maior importador do País. Nos últimos anos, o Estado vem obtendo o cereal em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, executando uma absurda operação rodoviária com mais de 100 mil viagens ao ano em percursos de até 2.000/2.500 quilômetros, ligando o sul ao centro-oeste brasileiro. 

Empresários e entidades discutem há muito tempo uma solução. Há seis anos surgiu uma articulação transfronteiriça entre Brasil, Argentina e Paraguai que permitiria a compra de milho paraguaio com a implantação da chamada Rota do Milho. 

O produto seria adquirido nos Departamentos de Itapúa e Alto Paraná (Paraguai), passaria pelo porto paraguaio 7 de Agosto, no município de Carlos Antonio López (Itapúa), atravessaria o rio Paraná em balsas, entraria na Província Argentina de Misiones pelo porto de Piray no município de Piray e seguiria até a divisa com o Brasil, sendo internalizado pelo porto seco catarinense de Dionísio Cerqueira. 

A geografia facilita mas, para o milho paraguaio chegar regularmente ao grande oeste catarinense, é necessária a supressão de vários gargalos que, atualmente, dificultam a logística de transporte de cereais e ameaçam a viabilidade dos negócios na região. O Paraguai possui 11 portos fluviais no rio Paraná. A província de Misiones (Argentina) estrutura um porto na capital provincial Posadas e uma ponte em Eldorado na divisa Argentina/Paraguai. Com essa conexão construída, o milho do Paraguai estaria a apenas 130 quilômetros da fronteira com Santa Catarina pelo trajeto Paraguai/Rio Paraná/Eldorado até Dionísio Cerqueira (SC) ou Paraíso (SC). Da fronteira até o maior polo da agroindústria (Chapecó) a distância seria de apenas 190 quilômetros.

A vantagem é evidente: trocar-se-á um percurso de 2.000 quilômetros, por outro, muito mais curto, de apenas 350 quilômetros.

Esse projeto está sendo discutido há seis anos, mas nunca chegou a ser concretizado. Até a balsa que faria a travessia internacional da Rota do Milho, ligando os portos fluviais paraguaios e argentino chegou a operar em caráter experimental. O equipamento tem capacidade para transportar 14 caminhões de 37 toneladas ao mesmo tempo. 

Em 2019, as agroindústrias catarinenses acreditavam que poderiam acessar o milho produzido no Paraguai com menor dispêndio e em melhores condições de competitividade. Acreditava-se que os governos finalmente acreditariam nessa alternativa de integração econômica e desenvolvimento do turismo que, afinal, é o objetivo do Mercosul. 

Mas o Mercosul, infelizmente, é um mercado comum que nunca se concretizou, embora tenha sido criado há mais de 30 anos. A Argentina nunca se empolgou com o projeto, alegou discrepâncias técnicas quanto ao uso das suas rodovias. Em resumo, a Rota do Milho continua na estaca zero.

Agora, a Receita Federal lançou edital para a construção de um novo Porto Seco em Dionísio Cerqueira em parceria com a iniciativa privada, mediante investimentos de R$ 40 milhões nos primeiros 15  anos de concessão e mais R$ 11,5 milhões nos 10 anos seguintes. Esse é um dos principais gargalos cuja supressão cria pré-condições para a desejada integração.

Torcemos para que o projeto Rota do Milho seja retomado e se inicie um novo eixo de desenvolvimento e integração transfronteiriça entre Brasil, Argentina e Paraguai. 

Por José Zeferino Pedrozo Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (FAESC) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR/SC).

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