
A temperatura média global do planeta em 2024 ultrapassou pela primeira vez a marca de 1.5°C, comparado aos níveis pré-industriais, ao longo de 11 meses. Segundo os dados confirmados pelo serviço europeu de mudança do clima Copernicus, divulgados nesta sexta-feira (10), a temperatura média global ficou 1.6°C mais quente, comparado ao período de 1850-1900.
Os dados climáticos preocupantes de 2024 tem motivado um esforço de coordenação entre os centros meteorológicos globais incluindo a Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês), que divulgaram seus dados ao longo desta sexta-feira confirmando 2024 como o ano mais quente desde 1850 e ultrapassado o limite de 1.5°C.
A anomalia de temperatura de um ano, porém, não significa que tenha sido rompido o limite de 1.5°C estabelecido pelo Acordo de Paris, que se refere às anomalias de temperatura calculadas ao longo de pelo menos 20 anos. Contudo, o comunicado ressalta que as temperaturas estão subindo além do que os humanos já experimentaram.
O centro europeu reitera o que a comunidade científica global tem enfatizado ao longo de décadas: a mudança do clima provocadas pela ação humana é a principal causa dos extremos de temperatura na atmosfera e da superfície do mar. A principal fonte global de gases de efeito estufa (GEE) é proveniente da queima de combustíveis fósseis.
O fenômeno El Niño ocorrido entre 2023 e 2024, um dos cinco mais fortes já registrados, também contribuiu para o aumento da temperatura média global.
Aquecimento na América é superior à média global – Enquanto a temperatura média global aumentou em 0.72°C em 2024, no continente americano o aumento foi maior. De acordo com o coordenador de pesquisa do Centro Nacional de Monitoramento e Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo, a anomalia da temperatura média ficou 0.95°C, comparada à média do período de 1990 a 2020. O pesquisador, que coordena a elaboração do relatório regional do Estado do Clima, afirma que diferença de 0.23°C superior à média global está associada às altas temperaturas em grandes regiões continentais, como o centro da América do Sul – abrangendo da Amazônia ao Pantanal – e o México. “Algumas áreas do México registraram ondas de calor com temperaturas de 45°C”, exemplifica.
Segundo Marengo, mesmo com a perspectiva de um 2025 menos quente, devido ao fenômeno La Niña – que é o resfriamento das águas da superfície do oceano Pacífico equatorial, permanece a tendência de continuidade de ocorrência de extremos climáticos devido ao aquecimento global e vapor d´água na atmosfera. “É como se estivéssemos colocando gasolina no fogo”, compara.
Para o pesquisador, os dados globais demonstram que a realidade antecipou as projeções e reitera os alertas de reduzir urgentemente as emissões de GEE. “As emissões de GEE precisam ser reduzidas no âmbito global, por todos os países, e também o desmatamento global”, afirmou.

Emissões de GEE – O aumento global da temperatura está associado à concentração de GEE na atmosfera, que está se mantendo constante e é o principal agente da mudança do clima. Segundo o Copernicus, 2024 atingiu os maiores níveis já registrados de dióxido de carbono (CO2) (422.1 ppm – partes por milhão) e metano (CH4) (1.897 ppb – partes por bilhão).
Superfície do mar – A alta temperatura do mar tem sido considerada um dos principais fatores para a manutenção das altas temperaturas da atmosfera nos anos de 2023 e 2024. Essa condição envolveu o fenômeno El Niño, que aquece a temperatura superficial da região equatorial do oceano Pacífico, e de anomalias de altas temperaturas da superfície do mar em outras regiões do planeta.
A extensão de gelo no Ártico e ao redor da Antártida, indicador da estabilidade climática, ficou abaixo da média, com valores recordes negativos pelo segundo ano consecutivo.
As altas temperaturas estão acompanhadas de altas concentrações de vapor d’água na atmosfera, que em 2024 ficou 5% superior comparado à média do período entre 1991-2020, segundo o modelo climático ERA5. A abundância de umidade também ampliou o potencial para ocorrências de chuvas extremas. A combinação dos dois indicadores contribuiu para aumentar o desenvolvimento de tempestades e ciclones tropicais, e os níveis de estresse térmico. Em 2024, a área do globo afetada por ‘forte estresse térmico’ atingiu um novo recorde máximo anual em 10 de julho, quando cerca de 44% do globo foi afetado por estresse térmico ‘forte’ a ‘extremo’.