Nossos aplausos hoje vão para Gelci José Coelho, o Peninha, um dos grandes preservadores da cultura e da memória catarinense.

Durante a entrevista, Peninha fala sobre a lenda do Salão de Festas das Bruxas de Itaguaçu. Confira abaixo a história completa:

As bruxas só gostam de lugar bonito, lugar formoso. É um engano achar que elas são tétricas, isso é só para enganar. Porque as bruxas não podem se apresentar, se elas são descobertas, perdem o poder. Então elas assustam, se fazem de figuras medonhas, mas coisíssima nenhuma, elas são as mais formosas. E elas têm que cumprir algumas regras. Uma delas são as reuniões nas mudanças das estações. Sempre que tem um equinócio, elas fazem uma reunião, e toda a caterva aparece. E ali está presente o próprio demônio. Elas têm que prestar contas para ele do que fizeram nos meses que passaram e mostrar o que farão nos próximos meses. E ele é muito fedorento, muito mal-educado, fede a enxofre, é um horror a figura. Então, em uma dessas reuniões, muitas já tinham ido embora e algumas ficaram por ali, na praia do lusco-fusco da manhã. E uma delas frequentava a alta sociedade, ia aos grande bailes, e contou para as outras que tinha ido recentemente a um baile onde as pessoas se vestiam com luvas longas, vestidos longos, penteados, joias, havia orquestra… Enfim, ela contou como era um baile da alta sociedade. As outras, que era mais simples e nunca tinham frequentado a alta sociedade, cobiçaram tanto, falaram tanto que gostariam de ir a um baile assim que a bruxa socialite teve uma ideia:

– Já sei, vamos fazer uma festa da alta sociedade para nós. A gente convida os seres elementais, os indígenas, os boitatás, os curupiras, os lobisomens, os vampiros, todo mundo, e a gente faz uma festa dessas.

E assim foi organizado um grande baile. A orquestra selenita veio da lua, a festa estava maravilhosa, uma festa elegante como elas sonhavam. Mas uma das bruxas, muito invejosa, quando viu o sucesso da festa, foi ao encontro do diabo e fofocou:

– Sabias que elas estão fazendo uma festa e não te convidaram porque tu fedes a enxofre?

Ah, o diabo quando ouviu essa fofoca ficou furioso e de repente apareceu no meio da festa. Muitas tinham corrido. Mas as que ficaram ele transformou-as em pedra.

Então essa é a história que se conta ali na praia de Itaguaçu. Só que essa história é um mistério porque ela é um fato folclórico. Na verdade é uma história que eu inventei e caiu no gosto popular. E quando cai no gosto popular, ela vira um fato folclórico. Muitas dessas histórias antigas, provavelmente foram as mães que inventaram para ter um controle sobre a criançada.”

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